O brasileiro, nossa versão tropical da última flor do Lácio, diferente e muito do que falava Camões, é rápido, lépido, serelepe e fugaz. Uma pessoa que enxergasse suficientemente rápido veria o brasileiro aparecendo e desaparecendo, travestindo e destravestindo-se, milhões de vezes por segundo.
Demonstrativo dessa característica dinâmica do idioma é o limbo entre o brasileiro escrito e o brasileiro falado. Daquele lado, as semelhanças com o português quase o confundem com ele; deste, a semelhança com a forma escrita às vezes soa estranha ao ouvido. No meio, não se adequando à forma escrita, nem ao /aufabɛtw fonɛtʃikw ĩteʁnasionaw/, encontram-se as escritas fonemadas, sendo o meu preferido o “vai si fude”.
Usado principalmente no facebook e nos meios de comunicação escrita interpessoal de uma forma geral, o “vai si fude” seria lido, em brasileiro, pela norma culta, /vai si fudʒi/, forma que claramente não é a esperada pelo locutor.
Na norma culta do brasileiro, de um lado encontra-se o “vá se foder”; de outro, atentem, o /vai si fude/, forma igual à empregada no exemplo de comunicação escrita que usei, o que ajuda a demonstrar não só o gap entre a escrita e a fala, mas a preferência emergente pela segunda para fins de comunicação informal interpessoal escrita. O que é plenamente justificável caso entendamos a gramática como mero instrumento da língua falada, esta original e correta, aquela derivada e, se destoante desta, incorreta.
Dessa forma, não só acho que deveria ser aceita a forma fonética para a escrita, como também deveria ser paulatinamente ensinada nas escolas. Tudo seria mais bonito e mais fácil.