Um outro fim do mundo é possível
Com o fracasso dos movimentos pela altermundialização dos anos 2000, simbolizados pela vontade dos Fóruns Sociais Mundiais de disputar a liderança da globalização com o capital, seu conhecido slogan “um outro mundo é possível” se transformou, na década seguinte, em seu oposto extremo: a descrença radical de que, não só um “outro” mundo, mas qualquer mundo fosse realmente possível. Nos restaria, numa espécie de “alterfindomundialização”, e na falta de uma providência redentora (vem, meteoro!), disputar formas melhores de eutanasiar o planeta: nos mudarmos para Marte, pararmos de fazer filhos, uparmos nossas consciências para a máquina. De “um outro mundo é possível” fomos rapidamente a “um outro fim do mundo é possível”. O que parece não nos ter chamado tanto a atenção, porém, foi a extensão semântica ardilosa desse “outro”, que, além de alternativo, pode muito bem ser, também, aditivo. Isto é, não prevíamos que um “outro” fim do mundo pudesse ser também “mais um” fim do mundo. Além de dominação capitalista do planeta, também apocalipse dos insetos, aquecimento global além do ponto de não retorno, aumento dos níveis dos mares, crise econômica mundial, fascistização política em larga escala. Todos correndo paralelamente e ao mesmo tempo.