Hoje é dia do amigo – eu acho… pelo menos foi o que eu vi no facebook –. O gatilho que eu precisava para escrever sobre algo que me perturba um pouco.
Você que está lendo isso talvez não me conheça, mas, se conhece, conhece de algum lugar. Sei lá… Ou da faculdade, ou por sermos vizinhos, ou por já termos trabalhado juntos, ou participado do mesmo clube, não sei. Mas me conhece de algum lugar.
Para você, tradicionalmente eu sempre pareci uma determinada pessoa, o Ítalo que você conhece. Se você me conhece da academia, me conhece de determinada forma, por determinado “ângulo”. Se me conhece do trabalho, me conhece de forma diferente, até porque eu e todos nós nos apresentamos de maneiras diferentes em diferentes contextos. Ponto.
Essas diferentes formas de ser, dependentes do contexto, representam, a meu ver, a camada mais exterior da nossa persona. Ou, melhor, a nossa persona per se, as nossas “vidas públicas”. Abaixo delas, reside nossa vida particular, pessoal. (Não acredito que esse nível represente o nosso “eu”, ou a nossa “verdadeira personalidade”, mas tão somente mais uma das formas como nos comportamos). Na vida particular, a que vivemos com a família e com amigos (stricto sensu), apresentamos características e compartilhamos informações que, via de regra, não são apresentadas e compartilhadas nos aspectos mais exteriores da nossa convivência na sociedade.
Essa é a forma como me parece que as pessoas se comportam na sociedade, *sem as redes sociais*. Importante frisar que essa dinâmica funciona fora das redes sociais porque, depois da aderência massiva da sociedade às redes sociais, notadamente o Facebook, a diferença entre nossas camadas de apresentação social começaram a ser reduzidas e, muitas vezes, suprimidas.
Com efeito, o perfil online que uso para me comunicar com amigos e familiares é o mesmo que uso para discutir assuntos acadêmicos no grupo de estudos, o mesmo que uso para manter contatos com ex-colegas do colégio e o mesmo que uso para adicionar os colegas de trabalho.
O efeito nefasto disso é que o meu chefe, minha mãe e meu colega de trabalho tem acesso à mesma informação sobre mim. Não só às minhas postagens na linha do tempo, mas também às coisas que eu “curto” e às pessoas com quem interajo.
É óbvio que é possível fazer uma filtragem e definição do interlocutor da minha mensagem, mas esse filtro é muito simplista e, numa rede de contatos de mil amigos para mais, é difícil definir ao que cada um deles deve ou não ter acesso.
Isso tudo é muito novo para nós. Não sei se estamos prontos para fundirmos todas as nossa facetas em uma só, nem sei se isso é benéfico, nem como lidaremos com isso. Só me parece que é assim que vai acontecer daqui para frente. Se é bom ou não, não sei se, nem como, nem quando vamos descobrir.