Remarques inconclusos...

…desorganizados e não revisados.

#1: Comecei a escutar rádio. Mudar da playlist estanque do MP3 pra vida real da FM Cultura me faz sentir menos isolado do mundo – e de quebra fico sabendo de alguma coisa enquanto ando de lá para cá.

#2: Ouvi hoje no rádio que a polícia civil de Pernambuco vai começar a descrever o gênero, a identidade de gênero e a orientação sexual das vítimas de crimes nos boletins de ocorrência. O motivo é tentar rastrear e identificar os crimes de ódio contra a população LGBT. Achei bastante positivo, kudos para Pernambuco.

#3: Por outro lado, no mesmo dia, li no site da CartaCapital sobre uma abordagem medieval que a polícia do Espírito Santo fez num grupo de pessoas dentro de um shopping em Vitória. Um grupo de jovens, maioria negros, havia saído de uma festa fechada pela polícia e ido até o shopping. Os comerciantes e clientes do lugar se sentiram ameaçados por algum motivo, provavelmente a cor de pele dos jovens, e ligaram para a polícia, que algemou todos e os deixou sentados no saguão do estabelecimento. Para depois concluir que nenhum portava nenhuma substância ilícita nem tinha cometido nenhum crime.

#4: Também li hoje que um atleta inglês trouxe a público sua homossexualidade. Kudos pela coragem. O que deixa qualquer pessoa sensata irritada é ler os comentários dos leitores nos jornalões brasileiros que deram a notícia. Via de regra, é o que de mais podre pode sair da mente de algum ser humano. Entendo o papel histórico que a ignorância tem na sociedade brasileira – onde é socialmente repreensível saber coisas ou pensar sobre assuntos – mas os comentários dessas páginas não podem ser fruto só de burrice, mas de má-fé e, com o perdão pela vagueza, maldade mesmo. Costumo fazer o exercício de comparar os comentários às notícias dos meios brasileiros e estrangeiros quando falam do mesmo assunto, como foi o caso. Fiz com o Guardian e o G1, e para espanto de ninguém a diferença é grande.

#5: Mas aí se põe a pergunta: é possível cobrar alguma coisa de um Brasil que ainda não foi alfabetizado? Não proponho nenhuma resposta, que fique claro. Ler e escrever, hoje, querendo ou não, são condições para a comunicação. O debate público no Brasil, como critica tanto a direita quanto a esquerda, é pobre. Não há um debate produtivo porque não se conversa, porque não se entende o outro etc. Acho que o problema é de educação mesmo. E não tenho ideia de como melhorar (sou fruto do que critico). Me parece que dinheiro é um começo, mas o problema é bem mais que financeiro.

#6: O volksgeist brasileiro tem suas próprias lógicas hediondas. Acho difícil entender essa aparente emergência de um ‘neoconservadorismo’ e um reacionarismo no ideário popular nos últimos tempos. A ideia da crise de representação, queda das grandes ideologias, globalização etc. podem dar um norte, mas os gatos ainda estão muito pardos para entender qualquer coisa que se passa conosco, me parece.

#7 Enquanto estudamos as dinâmicas de sujeição do subalterno na nossa sociedade contemporânea, do alto das nossas salas climatizadas nos décimos andares de nossas instituições, o estado democrático rui, o pobre é insultado, a mulher se mata, o negro leva a culpa pela cor, tudo de baixo do nosso nariz. O que fazer?

#8 Eu entro de férias nessa semana, o que me deixa contente no micro. Mas é possível ser feliz no macro?

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