Nota sobre shopping de subúrbio

Estive pensando sobre o quão especial é o shopping center de subúrbio, em oposição ao shopping center de metrópole. Aquele que não fica no centro urbano, mas na periferia, numa cidade da região metropolitana, ou num bairro mais afastado. Estive num shopping em Canoas ontem pela primeira vez e senti que era um lugar familiar. Não porque eu já tinha estado antes, mas porque é mais um shopping de subúrbio, e todos eles se parecem, no mundo inteiro: Porto Alegre, São Paulo, Toronto, Paris etc., são todos sempre muito semelhantes. Não que sejam próximos em formato ou localização, mas principalmente em clima e na relação do frequentador com o espaço.

Shoppings são não-lugares, assim como aeroportos: tanto não servem muito bem para estar, mas muito mais para passar, quanto também não são provedores de referências muito claras de orientação espacial. O tempo de shopping é um tempo ligeiramente distinto do tempo do resto da vida real, e talvez o de shopping de subúrbio seja ainda ligeiramente diferente do de shopping de centro. Um tanto mais devagar, e que pede uma relação mais contemplativa do frequentador (ou usuário, ou cliente? não sei como chama) com o espaço.

A praça de alimentação é sempre mais familial e menos bagunçada, as pessoas andam mais devagar e os grupos formam famílias mais tradicionais. Também são mais cheios no fim do dia, quando aqueles que trabalham no centro e voltam para o subúrbio depois do expediente se juntam para jantar, passear e namorar. São mais praça pública do que centro comercial. E eu suspeito que produzam amostras mais homogêneas de pessoas e mais representativas de locais: no shopping de centro passam turistas de outros países e outros estados, viajantes a negócios, turmas de excursão do interior – grupos que transitam nos centros, mas não nos subúrbios.

Em cidades turísticas – é uma ideia contra-intuitiva, mas comum na minha experiência – o shopping de subúrbio é uma tela muito mais cristalina para o ethos local do que qualquer restaurante ou café. Enquanto nos cafés há gente de todo canto e você pode ser atendido em inglês, no shopping só se fala o idioma local e todo mundo se parece com o estereótipo de gente de lá. E nesse sentido talvez shoppings de subúrbio até sejam um pouco lugares, ou ao menos não-lugares de um tipo diferente.

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