Nota sobre o estilo

Goffman aponta maneiras específicas pelas quais podemos identificar que as expectativas sociais não estão apenas embutidas na fala e na ação, mas que a própria fala carrega reações a essas expectativas. Segundo Goffman, quando indivíduos agem e interagem, eles mantêm certa liberdade dramatúrgica; eles têm o potencial de transmitir um dado conteúdo proposicional, por exemplo, de várias maneiras. Essas maneiras, que podem envolver entonação, uso de figuras de linguagem, movimentos faciais e corporais, entre outros aspectos de autopresentação, podem carregar seu próprio conteúdo semiótico: são portadores de significado.

Os aspectos performativos e estilísticos da ação de uma pessoa têm significado e podem intervir e ajudar a moldar as formas pelas quais ela é percebida. Indivíduos não são meramente passivos quando se trata de determinar como são vistos. Para explorar as maneiras como isso ocorre, gostaria de falar do exemplo do “estilo”, tratado aqui como uma forma sensível de representar ideias de natureza social e política.

Para Ernst Gombrich, o estilo é o que conecta os domínios da arte e da teoria social. Carnevali define o estilo como “a arte de criar o social”. O estilo é o que torna pessoas, lugares e grupos distinguíveis; serve como uma característica definidora entre indivíduos. Nesse contexto, funciona como uma ponte entre estruturas sociais universais e comportamentos individuais ou de grupo. O estilo emerge através da conversão de elementos sociais em formas estéticas. Quando se trata de autopresentação, uma forma de estilização que depende de uma manipulação da visibilidade, essa forma estética é o próprio sujeito. Nesse sentido, pode-se dizer que o estilo molda—se não cria—sujeitos.

Na medida em que pode ser “decodificado” para descobrir seu conteúdo experiencial, o estilo pode ser considerado um meio de comunicar desejos, tendências, emoções ou sensações que não vêm à tona através da reflexão, mas residem no domínio da expressão estética. O processo comunicativo através do qual uma mensagem é transmitida emprega vários tipos de símbolos. Isso abrange não apenas a linguagem falada, mas também sinais não-verbais, como vestuário, penteado, maquiagem.

Embora tipicamente associado à individualidade, o estilo também pode ser uma característica de grupo. Existem estilos específicos para classes sociais, grupos, profissões, gerações e subculturas. No contexto da modernização, o estilo e a visibilidade assumem uma importância especial na formação da cidade, especialmente a capital europeia. Como observou Baudelaire, a modernidade traz a necessidade de se distinguir da banalidade da vida cotidiana; a solução é criar-se sensivelmente, o que Baudelaire chama de “dandismo”.

Segundo Simmel, abordando um contexto semelhante, o meio de mediar entre a necessidade de distinção e a pressão para reproduzir normas sociais é a moda, o reino adequado da autopresentação. Além de simplesmente mediar a tensão entre individualidade e coletividade, o estilo serve como uma possível ferramenta política. As leis sumptuárias, por exemplo—que outrora regulavam o consumo e os modos de autopresentação na Europa pré-moderna para conter o luxo e o excesso—eram, em essência, estratégias políticas destinadas a controlar comportamentos. Em um contexto colonial, a Igreja Católica condenava a autoexpressão através da vestimenta, fundamentando isso como um argumento moral e exercendo uma forma de autoridade colonial moral. Embora a regulamentação da autoexpressão estilizada nas sociedades contemporâneas tenha se afastado do âmbito religioso e governamental em direção à esfera social, sua influência perdura de uma forma diferente. Como diz Barbara Carnevali:

“Ao controle dos estilos por meios normativos foi amplamente removido da dimensão legal e transferido para a esfera social. Nesta última esfera, que não é menos repressiva, não são as leis do estado que determinam a divisão dos estilos, mas as leis do reconhecimento, da imitação e da distinção — as leis da moda.”

Essas leis da moda não são inteiramente autônomas. Foi Bourdieu quem cimentou a ideia de que escolhas de vestuário e modos de comportamento servem como expressões de normas estruturais mais amplas. O estilo não reflete meramente as preferências de um indivíduo; ao contrário, está entrelaçado em um “campo” que permite sua compreensão através de tensões e relações mais amplas. Como ilustrado por Bourdieu em “A Distinção”, onde ele analisa as preferências de várias classes sociais na Paris dos anos 1970, o gosto é inerentemente gosto de classe: as classes superiores estão constantemente envolvidas em um processo de moldar o gosto, influenciando subsequentemente as classes inferiores com base em sua estrutura aspiracional.

Como aponta Hebdige, os modos das classes dominantes permanecem consistentemente como as normas prevalecentes, evoluindo ao longo de diferentes eras: “A classe que detém os meios de produção material também comanda a autoridade sobre os meios de produção mental.” Nesse contexto, o estilo se torna uma arena para a luta de classes. O estudo cultural de Hebdige sobre a Inglaterra do pós-guerra indica que o surgimento de subculturas significa a fratura do consenso no pós-guerra. Dentro desses subgrupos, emergem inclinações políticas distintas e métodos de expressar conflitos de classe. Essas inclinações e conflitos são transmitidos, como nota Hebdige, “obliquamente”, através do estilo. Baseando-se na semiótica de Barthes e na teoria da ideologia de Althusser, Hebdige explora os mecanismos conscientes e inconscientes pelos quais formas de autoexpressão estética efetivamente transmitem significado, estes suscetíveis de manipulação por diversas subculturas. É possível, segundo Hebdige, “discernir mensagens ocultas codificadas na superfície do estilo”.

Politicamente, o estilo pode funcionar como uma forma simbólica de resistência. Em vez de os conflitos de classe terem desaparecido para dar lugar a meros conflitos estéticos, como foi hipotetizado, os conflitos de classe se deslocam para um reino simbólico enquanto ainda retêm seu substrato de classe. Subculturas surgem como respostas a contextos sociais e políticos, impulsionadas por experiências sociais e aspirações de mobilidade social ou manutenção de status. Um estilo emerge como uma reação a um estado de coisas compartilhado a partir de uma perspectiva situada.

O estilo, essencialmente, é o nome para o trabalho estético que transforma o conteúdo experiencial em um modo de autopresentação. O estilo não existe em um reino puramente autônomo, mas responde a demandas sociais, expectativas normativas e modos de autoexpressão mais ou menos estabelecidos. Simultaneamente, surge da necessidade de expressão individual e, nesse sentido, pode ser entendido como um domínio no qual entende-se que os indivíduos exerçam algum controle—um domínio sobre o qual podem deliberar e que podem manipular.

O conceito de estilo serve para definir uma certa disposição que possui uma expressão política mais ampla. Em outras palavras, através da manipulação do estilo, é possível exercer controle sobre a visibilidade de si mesmo. O estilo é um dos fatores que determinam se os indivíduos são mais ou menos visíveis. É um elemento essencial nos processos de socialização precoce, por exemplo, onde se vestir de certa maneira pode levar a uma recepção melhor ou pior por parte de um grupo ao qual se pretende pertencer. Em última análise, o estilo emerge como uma ferramenta na interação entre individualidade, visibilidade e autoexpressão. Ele faz a ponte entre a experiência pessoal e a autoexpressão.

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