Facebookativismo e o Brasil

É alarmante o número de protestos contra as mais variadas coisas que vem aparecendo no Facebook ultimamente, a maioria deles, claro, sem fundamento algum, ou no mínimo com argumentos absurdos. Com o advento do botão “Compartilhar”, o que não falta são imagens com cachorros morrendo, crianças doentes ou índios chorando em nossas timelines tupininquins. Há pessoas que dizem que é pra isso que servem as redes sociais, eu discordo.

Com base nisso e inspirado pelo meu amigo André Macchione, decidi criar esse pequeno informativo sobre essas manifestações de facebookativismo que vemos por aí.

“blá blá blá… O salário de um parlamentar é o mesmo que o de 344 professores”. [várias versões].

Bem… Não é! Um deputado federal hoje, por exemplo, tem um salário de R$ 26.723,13, que, dividindo por 344, dá em torno de R$ 78,00. O salário de professores das UF é regulado pela própria UF, o que faz com que o salário varie de estado para estado, mas garanto que nenhum professor tem uma remuneração mensal de R$ 78,00. Estou ciente que o salário de um professor da rede pública normalmente não condiz com o seu esforço e é desvalorizado. Acho legítima a reinvinicação, mas incluir dados incorretos certamente não ajuda.

“Nestlé está fazendo um recall de um lote de papinhas de banana, pois foram encontrados resquícios de vidro dentro das embalagens, lotes x, y e z!”

Por pura preguiça dos que só clicam “Compartilhar”, a Nestlé até pode ter tido problemas.  Esse recall aconteceu de fato, mas foi por causa de um resquício de vidro encontrado dentro de um potinho da papinha P’tit Pot Recette Banana, vendido, pasmem, na FRANÇA! Esse produto nunca foi comercializado no Brasil. A Nestlé expediu um comunicado no seu site para informar a população sobre o engano. Mas pra quê digitar no google e verificar a veracidade da notícia, né?

“O Cacique Raoni chora ao saber que Dilma liberou o inicio das construções de Belo Monte. Belo Monte seria maior que o Canal do Panamá, inundando pelo menos 400.000 hectares de floresta, expulsando 40.000 indígenas e populações locais e destruindo o habitat precioso de inúmeras espécies. […]”

Tudo bem ser contra a construção da usina de Belo Monte. Quem é a favor, assim como quem é contra a construção da usina tem seus motivos, não procuro entrar nesse mérito. Me refiro somente aos números apresentados. Basta um pouco de raciocínio para percebermos que talvez esses dados não estejam corretos. 400.000 hectares são aproximadamente o tamanho do território total da Polinésia Francesa, ou, se preferirem, dois mil Principados de Mônaco, sendo que o Ibama liberou o desmatamento de apenas 238,1 hectares para desmatamento. A imagem também diz que 40.000 indígenas serão expulsos de suas terras. No Pará, pelo que me consta, há em torno de 18.000 índios atualmente, ou seja, menos da metade dos que seriam removidos. Além do mais, nenhuma comunidade indígena pode ser tirada de suas aldeias, conforme prevê a constituição, salvo com aprovação do Congresso Nacional. Vale lembrar que a autorização da construção do projeto não é de inteira responsabilidade do presidente da república. Aliás, a autorização da exploração dos recursos de Belo Monte foram providas pelo Senado Federal mediante Decreto Legislativo.

Enfim, há muitas outras imagens circulando por aí. Lembro de uma que mostra um mesmo sujeito, tatuado, de um lado da imagem vestindo camiseta sem mangas, bermuda e do outro lado vestindo um jaleco de médico, tendo uma legenda que dizia algo como “Aquele marginal tatuado poderia salvar sua vida”, devendo servir como um argumento contra o preconceito com pessoas tatuadas. Isso quer dizer, então, que por estar usando um jaleco de médico a pessoa tatuada merece respeito, ou então o contrário, se fosse um presidiário, por exemplo, não mereceria respeito?

Espero ter ajudado. Usem as informações acima com sabedoria!

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