E gostei. E muito.
- Spoilers a partir deste ponto
Fui para o cinema esperando um thriller hollywoodiano ordinário e ganhei um baita filme sobre a vida. Gravityé um filme sobre a vida. Nos primeiros 20 minutos de filme já morrem as primeiras pessoas. Astrunautas a bordo de uma nave orbitando a terra. Uma ‘chuva’ de destroços de satélites atinge a nave e mata todos os tripulantes, exceto a Sandra Bullock e o George Clooney.
Gravity é um filme de terror. Um terror físico. Eu sofri junto com a Dr. Stone enquanto ela girava no espaço sem oxigênio depois de ter se desconectado da nave pela colisão com um pedaço de metal. Prendi a respiração eu também.
Assisti em 3D. Apesar de eu não gostar muito daqueles óculos por escurecerem a imagem, comemorei pela escolha. Os planos com a Terra ao fundo vista do espaço são ótimos. O 3D deve ter ajudado o filme a me causar uma boa impressão. Perceber a profundidade do capacete do traje espacial quando um astronauta se aproximava da tela ou espasmar involuntariamente quando um bloco de ferro veio na minha direção foi interessante.
As únicas coisas que eu achei que não contribuíram pra causar uma impressão de veracidade foi o fato de, de todas as possibilidades possíveis em cada situação, sempre acontecer a pior, e, ao mesmo tempo, a linha narrativa se valer a toda hora de coincidências e bona fortuna. Acabou criando uma montanha russa de tensão-alívio muito repetitiva.
Lamento também o fato da protagonista ter sobrevivido. A morte é sempre um tabu nos filmes ‘A’. É fácil lidar com a morte do outro, a perda, mas sobre a ‘minha morte’ (do protagonista) parece que paira uma ideia de reprovabilidade. Minha impressão.
Se a Dr. Stone tivesse morrido, como eu esperava, o filme teria se encaminhado a uma direção que eu acharia interessante, que é lidar com a certeza da morte iminente, porém, não o fez. Mas não o fez de uma forma legal, boa, com maestria. Durante o filme inteiro há referências à religião, à noção de Deus e de vida. Destaco três cenas. Primeira, depois da Dr. Stone ter sido resgatada pelo Dr. Kowalski, este pergunta àquela se “haveria alguém lá embaixo [na terra] querendo seu bem”; Segunda, quando ela entra na International Space Station e respira oxigênio novamente. Ela relaxa os músculos e a falta de gravidade a deixa em posição fetal. A cena é linda e poética. Por fim, a cena final (!), onde, depois de pousar com a cápsula em algo como um lago, a câmera mostra a Dr. Stone saindo da Soyuz em segundo plano enquanto, em primeiro plano, passa um sapo nadando em direção à superfície. Quando a astronauta sai da água, tenta se erguer ao chegar à beira. De início não consegue. Depois de tentar, contrai os músculos e se põe de pé. Durante o filme inteiro subjaz uma ideia de progressão temporal, desde a ideia de um espírito absoluto (no céu) até culminar com o surgimento da vida (na terra), no final do filme.
Eu achei o filme comparável em qualidade, considerando o gênero e a temática, a 2001: Uma odisseia no espaço. Me surpreendi muito positivamente. Belíssimo longa. Quero assistir novamente.