Esquerda pós-hegemônica

A esquerda petista começou em 2013~2015 a perder a hegemonia discursiva que a fazia reinar absoluta na esfera pública nacional desde o início do período Lula. Desnecessário dizer que essa mudança afetou também as demais esquerdas, e fez com que a esquerda brasileira precisasse começar a disputar, no campo discursivo, com setores que ficaram quietinhos durante uns anos, notadamente este não-oximoro tropical que é o liberal-conservadorismo.

Se isso, por um lado, nos obriga a lidar mais próxima e frequentemente com gente dizendo, por exemplo, que tem que ter uma chacina por mês nos presídios, ou que a riqueza dos irmãos Marinho são uma coisa, digamos, justa e merecida, também nos obriga (e este é o ponto positivo) a descer dos nossos pedestais e botar em jogo nossas próprias convicções – idealmente, afastando-as do dogma ideológico e tornando-as produto de alguma reflexão.

Não é mais óbvio que o Estado deve financiar bens culturais; não é mais óbvio que o neodesenvolvimentismo é a opção mais adequada à economia brasileira; não é mais óbvio que a gente tem que injetar dinheiro na elite e distribuir riqueza da classe média. Se imediatamente isso pode ser uma merda, pelo menos nos incentiva a questionar nossas próprias convicções e elaborar nossos argumentos, o que é pedagógico e essencial no longo prazo, principalmente num momento de ausência total de projetos de Brasil.

essential