Chorei que nem um bebê no domingo. Dentro do teatro. Soluçando. Durante o espetáculo inteiro. Tem algo no verão ou nas férias que me deixa sensível, emotivo e chorão. E a peça que eu via disparou o gatilho. Sem nenhum motivo específico. É claro que todo mundo tem um motivo para chorar, mas nem sempre um específico. Eu tinha vários inespecíficos. Minha testa e minha boca franziam, eu respirava em paralelepípedos e segurava para não deixar escapar nenhum ruído audível. Virava a cabeça para trás e fungava o nariz. As lágrimas escorriam rosto abaixo e caíam no colo, eu tentava limpar o rosto com a manga da camisa. Um caos todo lambuzado no meu rosto. Virei naquela hora um garotinho desacompanhado que só não sabia lidar com tudo que se passava dentro de si. Garganta apertada pelos demônios do incerto, do temível, do amado, do passado, da conversa, do toque, do gesto, do passo e do grito. Todos tão reais, mas ao mesmo tempo só jogo de espelhos e fumaça. Era impossível saber, na hora, e não havia mão para segurar, nem braço para encostar. Antes fosse um garotinho, assim não era mal chorar em público, dizer a todos “em mim há coisas que acontecem que extrapolam o tanto com que consigo lidar”.
Nos momentos que seguem e se seguiram, a luz do dia já voltava com toda sua máquina de fazer calar. Hora de secar os olhos, lavar as mãos, caminhar reto e só duvidar de vez em quando raramente. Não pode ser saudável quem acha que não se pode chorar na rua. Nem quem passa o verão sem pelo menos uma vez sentar quieto, fechar os olhos (seja isso literal ou não) e chorar por muitos motivos mas sem nenhum específico. O verão me deixa emotivo. A todos, talvez. Sinto mais e penso menos.