Trabalhar durante a madrugada me traz um prazer muito maior do que durante o dia. Não sei se é pela falta de notificações tilintando na tela do computador ou do celular ou o quase vazio das ruas nesse período em que os carros dormem, mas a madrugada traz algo especial à minha criatividade e aos meus ânimos.
É nesse período em que eu mais produzo, seja lá o que for. A leitura de textos é mais fluida e a escrita mais eloquente e imaginativa. Até a música dos piano trios, que ouço na companhia de meu gato, Voltaire, se torna mais afável aos ouvidos – meus e provavelmente deles também, quando se enrosca nas cobertas e me acompanha, dormindo, até chegar a hora de ir para a aula ou para a cama.
O café talvez também ajude. Fico mais disposto depois de uns goles de Arlistáncom leite e canela.
As madrugadas de trabalho normalmente nascem da frustração em tentar dormir ou manifesta impossibilidade de fazer isso. O ciclo normalmente começa num final de semana, quando disparo o gatilho da minha desordem de atraso das fases do sono e acabo indo dormir quando já é dia. Aí, durante a semana vivo com os períodos invertidos. Nem reclamo; até me sinto confortável vivendo à noite e dormindo de dia.
Quando é noite e sei que tenho compromisso na manhã seguinte, costumo pegar um livro mais denso e cujo conteúdo não me interesse sobremaneira para ler na cama e usar como sonífero. Na maioria das vezes não funciona. Aí desligo a luminária, me deito, giro para um lado, conto de zero a mil, giro para o outro, medito, torno a girar, mil pensamentos vêm à mente, reflito sobre eles, percebo que já é muito tarde, tento dormir novamente, não consigo. Aí levanto, me visto, às vezes calço um tênis, ligo o computador, ponho uma música e faço o que tenho que fazer. Quando não há o que fazer, gasto horas navegando por hiperlinks da Wikipédia – aliás, que tecnologia maravilhosa! – até me dar conta, enquanto leio artigos sobre Atéginaou squircles, de que já passou do horário em que eu deveria estar pronto para ir à aula. Chego atrasado, mas valeu a pena.