É-mos

Essa á mais uma daquelas coisas que, parafraseando meu amigo Gerson, “só acontecem com a língua”. Mais especificamente, é uma das coisas que, por só acontecerem com a língua, ninguém se acha no direito de propor uma mudança. Pois, hoje, serei esse alguém.

Começo pelo começo.

A situação

Existem, oficialmente, seis pronomes pessoais do caso reto: eu, tu ele, nós, vós, eles. O “nós” exprime a ideia de “eu + uma ou mais pessoas”. A mesma semântica do “nós” tem a locução pronominal “a gente”, com a única diferença de ser conjugada como “ele”. Na prática: Nós amamos chocolate = A gente ama chocolate. OK, isso todo mundo já sabe. Avancemos.

O __problema

Idiomas tem uma coisa da maneira de soar definir se a coisa está correta ou não. Salvo exceções, se soa bem está correto e se soa mal está errado (ou pelo menos é assim que funciona comigo). Atentem:
“A gente é legal” = OK, soa perfeitamente bem.
“A gente é irmãos” = Hmmm… estranho. “é” e plural ao mesmo tempo… Sei não. 
“A gente é gêmeo/gêmeos” = Parece errado. A gente é gêmeo? Ué, mas não eram dois? A gente é gêmeos? De novo, “é” e plural? A gente somos gêmeos? A gente somos, really?

Há muito tempo eu analiso esse fenômeno e procuro soluções para ele, normalmente usando algumas das frases acima para apoiar meu argumento. Hoje, enquanto voltava para casa cantarolando Le Temps De L’amour, da Françoise Hardy, percebi que uma das frases da música se encaixa como exemplo:
“On se dit qu’à vingt ans/ On est le roi du monde”, algo como “Se diz que há vinte anos/ A gente é o rei do mundo”. _A gente _é o _rei _do mundo? Pombas, se é mais que um, não cabe “é”…

Ao que parece, os estudos linguístico-normativos contemporâneos apontam para a solução do problema como “foda-se, é tudo no singular mesmo”. Mas já vimos que esse argumento não cola, já que o resultado fica feio.

A solução

Depois de muito pensar sobre e discutir o assunto com alguns amigos meus interessados no assunto, não vislumbro outra saída senão a adoção de uma nova palavra que substitua o “é” e o “somos” no caso do a gente.

A minha proposta é que, nos casos em que houver dúvida sobre a correta utilização do singular e do plural na aplicação do verbo ser, flexiona-se o substantivo para o plural e usa-se uma palavra nova, o “é-mos”.

Não preciso explicar que “é-mos” é uma simples junção de “é” (a gente) com o fim de “somos” (nós). A noção original da palavra era “émos”, mas por uma série de motivos essa palavra estaria errada. A única forma de construí-la seria do jeito que foi feito.

Trata-se sem dúvida da solução para qualquer impasse que surja nesse aspecto. O próximo passo é ser adotado massivamente e, por fim, ser incorporado pela norma culta. Fácil. Peço que quando usarem em seus blogs/facebooks/twitteres a forma “é-mos” do verbo ser, me linken. Ficarei agradecido.

Por fim, a correção dos exemplos que eu dei ficaria assim:
“A gente é-mos legais” = soa perfeitamente
“A gente é-mos irmãos” = lindo
“A gente é-mos gêmeos” = ótimo! obrigado, Ítalo!

De nada.

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